11 outubro 2006

"Made in Portugal", o programa alternativo

Aqui há uns dias o Gervásio viu nas notícias um projecto divulgado pela AEP, na figura do seu ilustríssimo presidente Ludgero Marques, que visava apelar ao Patriotismo dos Portugueses, fazendo-os crer que realmente estão a fazer um bem à nação ao comprar produtos portugueses pelo simples facto de terem um selo com a indicação “Compro o que é nosso” e "Made in Portugal" (não sei porquê, mas fez-me lembrar logo o "saudoso" programa da TV sobre a música Pimba). Ora obviamente aqui o macaquinho começou logo a coçar a cabeça...

Ó Xoutor, acorde para a vida!!!! Comprar produtos baseando-nos exclusivamente no nosso elevado patriotismo, não só seria estúpido como também seria/é extremamente contraproducente.

Os empresários portugueses têm de perceber de uma vez por todas que os consumidores são racionais (ou seja, não são estúpidos!) e não vão comprar um produto só pelo simples facto de ter lá uma indicação de que é um produto nacional. Se aqui o macaquinho tiver uma banana da Madeira e um "plátano de Ecuador" ao mesmo preço, obviamente que escolhe a da Madeira. Mas se a da Madeira custar o dobro da do Equador aí não vale sequer a pena gastarem dinheiro em selos "Made in Portugal". O Gervásio pode ser macaco, mas não é burro!

Hoje em dia os consumidores em geral vão normalmente comprar um produto que lhes dê garantias de qualidade ao melhor preço. Sublinho... qualidade! Hoje em dia se não se competir em termos da qualidade e diferenciação dos produtos é impossível, a longo prazo, competir com países que conseguem produzir a um custo mais baixo. Se os produtos portugueses não conseguirem competir com estes pressupostos de mercado, nunca seremos competitivos! No entanto, aquele selo não é seguramente, por si só, garantia de qualidade para ninguém. Será que, se os produtos não têm qualidade, o consumidor português é suposto ser a Santa Casa da Misericórdia para as empresas? E diria mais, mesmo que o seja, será que as empresas portuguesas a longo prazo irão beneficiar disso?

A propósito disto lembro-me do caso da PT, que até pode ser alargado ao caso de todas as grandes “pequenas” empresas portuguesas (há quem diga que são grandes, outros que são pequenas, por isso para agradar a todos ponho os dois termos).

As “grandes” pequenas empresas portuguesas (das quais o melhor exemplo é a PT, mas onde também podem ser englobadas a Galp, a EDP, a Cimpor, a Brisa, etc.) são claros exemplos de empresas quasi-monopolistas ou oligopolistas nos mercados onde operam. É sabido que nos mercados monopolistas ou oligopolistas o principal perdedor é sempre o consumidor porque acaba por ter de pagar um preço superior pelos produtos/serviços.

Ora vimos na OPA recente de que esta empresa foi alvo, que o facto de não se ter “modernizado” (não no sentido tecnológico, mas do ponto de vista do negócio) levou à sua queda. É caso para dizer que não morreu da possível doença (ou seja, da perda, em grande volume, de consumidores), mas acabou por morrer da cura (a situação quasi-monopolista em que operava tornou-a demasiado apetecível para compra por parte de outra grande empresa).

É incrível como este tipo de empresas parece aproveitar o mercado português para fazer lucros e depois corre rapidamente para o estrangeiro esbanjá-lo, depauperando não só os consumidores portugueses, mas a globalidade da economia.

Pois é, caros amigos do Gervásio, em última análise a culpa do nosso país ter a economia que tem deriva também desta falta de concorrência. Fica para vossa reflexão…

Gervásio.
E você? Quanto tempo mais vai levar a perceber?

3 Comments:

At 2:19 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Sêu Macaco, o sr. dispara em muitas direcções ao mesmo tempo... Começou a mirar o assunto "Made in Portugal" e acabou por disparar na OPA à PT, recolhendo a caça com o monopolismo das "pequenas grandes" portuguesas. Se aprofundar o tema da bananinha da Madeira "made in Portugal" terá muito que dizer. Aqui vai um exemplo, porque é que os textêis "made in Portugal" vendidos cá em Portugal têm um décimo da qualidade daqueles que são exportados para países como a França? Tem que se lhe diga, não? E será que os produtos estrangeiros vendidos cá serão os de melhor qualidade? Ou será exactamente o inverso, nós exportamos o melhor e consumimos o pior do que é nosso, enquanto os de fora, consomem o que de melhor e têm e exportam o resto?

Votos de bons post! Continue com a macacada, sr. Gervásio.

Tita Lagarto

 
At 3:36 da tarde, Blogger Gervasio said...

Exmª. Srª. Drª. Tita Lagarto,

Tem toda a razão! Eu disparo em várias direcções. É a revolta pelo estado de coisas que leva o Gervásio a ficar assim agitado! É isso que o leva a tentar desmascarar o máximo de embustes e emboscadas ao povo português!
O seu post foi extremamente interessante, pelo facto de ter vindo desmascarar outras questões algo incompreensíveis neste país.
De facto, constato que muitos dos produtos têxteis à venda em algumas das maiores cadeias retalhistas europeias de vestuário (e calçado), apesar de portugueses, aparecem com a indicação "Made in the EU". Será que só cá dentro é que as empresas portuguesas têm orgulho nos produtos que produzem? O selo "Made in Portugal" só é bom para nós? Irra, a nossa reputação lá fora é assim tão má? Com certeza que não!
Porquê então este tipo de políticas empresariais? Talvez porque a grande maioria das empresas portuguesas se prefere assumir como coitadinha, como uma pobre empresa que não consegue exportar nada lá pra fora se não for atamente subsidiada e apoiada. Nós certamente somos tão bons ou melhores que os outros, porém temos que encarar a concorrência de frente e fazer valer aquilo que temos de valioso.

E quanto ao repto lançado no seu post, pode descansar, o Gervásio irá fazer todos os possíveis para que nada passe impune aos olhos da blogosfera! Nada nem ninguém o demove das suas intenções!
Obrigado mais uma vez pela participação.

Gervásio

 
At 3:45 da tarde, Blogger Gervasio said...

Uma vez que estamos a discutir o papel das empresas portuguesas no desenvolvimento e emancipação do país, o Gervásio andou a remexer nos seus arquivos e encontrou este artigo interessante (DN 27/09/2006):

"O relatório sobre competitividade do Fórum Económico Mundial é uma vergonha para os gestores e empresários portugueses (…). Portugal desceu do 31.º lugar para o 34.º entre 125 países fundamentalmente por causa do mau funcionamento das instituições privadas. Afinal, a fraca imagem do País deve-se em grande parte ao sector privado.
O pior indicador de Portugal é o que está relacionado com o baixo crescimento e os défices público e externo. A seguir, a mais baixa qualificação está na sofisticação dos negócios. Ou seja, fracos processos produtivos, problemas nas estratégias de marketing e dificuldade em delegar competências. Aquilo de que tanto se queixam os gestores, ou seja, os custos de contexto, que correspondem ao enquadramento em que se movem os negócios, e a qualidade das instituições têm afinal uma classificação melhor que o funcionamento das empresas e das entidades privadas em geral. Em termos globais, as instituições públicas têm, no ranking do Fórum com sede em Davos, melhor classificação que as privadas."

Isto parece confirmar o que foi comentado mais acima.
Não querendo englobar todos no mesmo saco, diria que o problema em Portugal não é o sistema (usando um termo "futebolês") em si, mas sim nas pessoas dentro do sistema: os seus gestores e empresários.
Porém, lanço a questão: Será que são só estas as pessoas dentro do sistema? E será que são eles os principais (e únicos) responsáveis pelo estado das coisas?

 

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