01 junho 2007

A orquestra desafinada… ou o chamado “Freestyle”

O Ministro Mário Lino disse aqui há uns tempos que o Governo português é “como uma orquestra”. De facto, já há muito que os membros do Governo do nosso país demonstram dotes sobrenaturais para, à frente de câmaras e microfones, soltar uns acordes dissonantes no contexto da sociedade portuguesa.
Porém, aparentemente no contexto do Governo parece que tudo está orquestrado ao ínfimo pormenor porque em matéria de “gafes” nenhum ministro tem parado de demonstrar os seus dotes!
Aliás eu faria antes uma analogia entre “gafes” e futebol, onde actualmente os melhores craques se vêm pelos seus malabarismos “Freestyle” com a bola nos pés e não tanto pelo jogo de equipa que fazem. Podemos dizer que os ministros Mário Lino e Manuel Pinho estão para as “gafes governativas” como o Ronaldinho e o Cristiano Ronaldo estão para o futebol “Freestyle”.

Na semana passada, o “Ronaldinho do Governo” veio opinar (uma vez mais!) a favor da construção do novo aeroporto na Ota: “Acho faraónico fazer o aeroporto na Margem Sul, onde não há gente, onde não há escolas, onde não há hospitais, onde não há cidades, nem indústria, comércio, hotéis e onde há questões da maior relevância que é necessário preservar.” Mais, sublinhou, a margem sul “é um deserto”.

Obviamente que estas declarações não correspondem à realidade da zona em questão, mas o que é mais estranho é que, apesar da sua tão afamada valia técnica, o Xoutor Mário Lino parece apontar como defeito uma das principais razões apontadas para o desmantelamento da Portela: o facto de se encontrar junto de zonas densamente povoadas. A sua valia técnica parece igualmente ser contrastante com a valia técnica de uma boa parte das empresas que tem feito estudos sobre a localização do novo aeroporto, dado que em quase todos os estudos mais recentes a Ota tem sido considerada como segunda ou mesmo terceira alternativa mais viável.

No entanto, um membro sénior da mesma “cor”, Almeida Santos, qual Maradona regressado da reforma, veio expor também os seus argumentos “Freestyle” sobre o assunto dizendo que "Um aeroporto na margem sul tem um defeito: precisa de pontes. Suponham que uma ponte é dinamitada? Quem quiser criar um grande problema em Portugal, em termos de aviação internacional, desliga o norte do sul do país". Este argumento é, no mínimo, rebuscado...
E ainda dizem que os nossos políticos não são criativos! Vejam bem os argumentos “Freestyle” que eles arranjam!

O Gervásio só tem um comentário a fazer: normalmente o Freestyle dos génios da bola só surge num jogo, em último recurso, quando quase perdem a bola. Será que nas “gafes” políticas se aplica o mesmo raciocínio?

Será que os argumentos em defesa da Ota começam a faltar e a única forma de convencer a opinião pública é sacar da cartola um “Freestyle” político?

Aquilo que é por demais aparente é que sendo a Ota uma opção mais dispendiosa, mais demorada e menos viável tecnicamente, deve haver um motivo muito forte (ou interesses muito fortes?) para que se usem estas “jogadas de último recurso” como argumentos em defesa da Ota.

O Gervásio faz um repto: investigue-se!

Gervásio.
E você? Quanto tempo mais vai levar a investigar?

P.S.: “O Cristiano Ronaldo do Governo”, Xoutor Manuel Pinho não quis ficar atrás do seu colega e na semana passada decidiu avançar com mais uma “gafe”. No encerramento da fábrica da Delphi da Guarda apressou-se a anunciar que não haveria qualquer problema para as famílias dos trabalhadores que foram para o desemprego uma vez que estes iriam ser absorvidos pela unidade da empresa em Castelo Branco.
O seu secretário de Estado-adjunto Castro Guerra, qual defesa adversário veio “cortar a jogada Freestyle” lembrando que os postos de trabalho em Castelo Branco já estavam preenchidos.
Pois é, caros amigos, nem sempre quem “Joga bonito” consegue ganhar…

2 Comments:

At 3:42 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Boa tarde Xôtor Monkey Business,
Onde se baseia o Xôtor para afirmar que a Ota é a "opção mais dispendiosa, mais demorada e menos viável tecnicamente"?

 
At 3:54 da tarde, Blogger MonkeyBusiness said...

Boa tarde Xoutor Petit,
Pergunta pertinente a sua. Baseio-me no que tenho lido sobre o assunto, mas sobretudo naquilo que eu conheço sobre as localizações apontadas como possíveis para o aeroporto.
Não sendo licenciado em engenharia, muito menos engenheiro, parece-me bastante mais barato, simples e rápido fazer terraplanagem em terrenos planos ou semi-planos que em terrenos com colinas ou montes, não concorda?
Para além de que a zona da Ota segundo alguns estudos já noticiados terá alguns problemas ao nível da instabilidade atmosférica.
De meteorologia e aeronáutica também pouco percebo, mas no meu humilde senso comum parece-me que a zona da Ota é bastante mais ventosa que as restantes alternativas.

Mudando de âmbito, será que é necessário um aeroporto "pseudo-megalómano" como aquele que se perspectiva?
Será que um 2º aeroporto de apoio para a deslocação de companhias low cost não teria maior viabilidade? Convém denotar que o modelo de futuro da aviação irá concentrar-se sobretudo nas low cost (a Easyjet é já a 2ª maior companhia em termos de passageiros a circular para Lisboa!). Esse 2º aeroporto permitiria diferenciar as taxas cobradas, ao contrário de um aeroporto "pseudo-megalómano" que quase se vê obrigado a cobrar taxas mais elevadas para cobrir os custos de manutenção de certos padrões de qualidade que certamente um "aeroporto de low cost" não requereria...

O nosso país continua com a "mentalidade do betão" como modelo de desenvolvimento e enquanto isso não mudar, dificilmente conseguiremos crescer sustentadamente.

Sei que em muitos dos estudos pró e contra a Ota há desinformação, informação politizada, daí que acreditando que terá mais conhecimentos na matéria que eu, até agradecia se trouxesse umas luzes ao debate.
E já agora, se quiser dar a sua opinião sobre a Ota vs alternativas e indicar em que estudos se baseia muito lhe ficaria agradecido.

Gervásio.
E você? O que pensa sobre o novo aeroporto de Lisboa?

 

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